sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A MULTIPLICAÇÃO DOS SÓS E O TOTALITARISMO MODERNO

Uma "sociedade" com a praga que Valery chama "a multiplicação dos sós", é necessariamente coletivista. Como diria o conselheiro Acácio, para ser eu, não é preciso ser outro, na dependência de outro, Deus, homem, hierarquia, sociedade, instituições, coisas, universo, nada em suma de tudo que é. É então necessário suprimir qualquer alienação, romper todos os vínculo que ainda unissem, mesmo mentalmente, o eu ao não-eu.
Mas, para que todas as subjetividades estejam na mesma situação, é preciso compor todo um Estado proprietário de tudo que não é o próprio eu, o eu esvaziado de ser, ou , se assim podemos dizer, o eu que recebe seu vazio de ser — Monstro anônimo em cujas mínimas percepções, se vê que não passa de um Aparelho manobrado por uma "nova classe dirigente" e minoritária.The madness of the many for the gain of a few, dizia Pope. Atrás do monstro estão os maquinistas.
Para ver isso, é preciso deixar toda a subjetividade. Ao contrário, quanto mais mergulhamos na subjetividade para liberá-la do que não é ela, tanto mais nos diluímos numa coletividade imaginária, numa espécie de "teosfera" de massa humana divinizada, que outra coisa não é senão o eu indefinidamente dilatado.


Marcel DE CORTE. Sartre, filósofo da contestação.

                               Marcel DE CORTE (1905-1994)

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