Uma "sociedade" com a praga
que Valery chama "a multiplicação dos sós", é necessariamente
coletivista. Como diria o conselheiro Acácio, para ser eu, não é
preciso ser outro, na dependência de outro, Deus, homem,
hierarquia, sociedade, instituições, coisas, universo, nada em suma de tudo que
é. É então necessário suprimir qualquer alienação, romper todos os vínculo que
ainda unissem, mesmo mentalmente, o eu ao não-eu.
Mas, para que todas as subjetividades
estejam na mesma situação, é preciso compor todo um Estado proprietário
de tudo que não é o próprio eu, o eu esvaziado de
ser, ou , se assim podemos dizer, o eu que recebe seu vazio de
ser — Monstro anônimo em cujas mínimas percepções, se vê que não passa de um
Aparelho manobrado por uma "nova classe dirigente" e minoritária.The
madness of the many for the gain of a few, dizia Pope. Atrás do
monstro estão os maquinistas.
Para ver isso, é preciso deixar toda a
subjetividade. Ao contrário, quanto mais mergulhamos na subjetividade para
liberá-la do que não é ela, tanto mais nos diluímos numa
coletividade imaginária, numa espécie de "teosfera" de massa humana
divinizada, que outra coisa não é senão o eu indefinidamente
dilatado.
Marcel DE CORTE. Sartre, filósofo da
contestação.
Marcel DE CORTE (1905-1994)
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