As muralhas são necessárias para o homem, para a família, para a
Cidade, porque toda morada está ameaçada. Isto o advertiu com sua agudeza
habitual Saint-Exupéry: “o homem é muito
semelhante à cidadela. Ele bem derruba as muralhas para assegurar a liberdade,
mas nessa altura não passa de fortaleza desmantelada e aberta às estrelas.
Começa então a angustia que vem de ter deixado de ser” (“Cidadela”,
II). E como antecipando-se a
estes obscuros tempos nos quais vivemos, escuta a voz do insensato que pretende
destruir o palácio com o argumento da eficácia e que hoje escutamos nos arrotos
da eloquência de tantos políticos, economistas, jornalistas: “Quanto espaço dilapidado, quantas riquezas
inexploradas, quantas comodidades perdidas por negligência! Urge demolir estes
muros inúteis... então o homem será livre”. O insensato
busca derrubar os muros e degradar os homens a cuja sombra viviam, e que nessa
altura, tornar-se-ão “gado de praça pública”, pois já não se elevam para as alturas
das torres e pilares do palácio que são capazes de inspirar poemas. É possível que
por muito tempo vivam da lembrança dessa sombra da nostalgia; “depois,
a própria sombra se apagará e deixarão de compreender” (“Cidadela”, III).
Mas o ser pleno não se esgota
nesta perspectiva que se reduz à ordem natural. Ali, Saint-Exupéry busca,
diante da falsa liberdade, defender o homem para que possa alcançar a plenitude
em seu ser natural; isso é bom porque é a base de sua vida sobrenatural, mas
insuficiente. É preciso construir outros muros. Essas muralhas que aparecem nos
Salmos e que alcançam sua perfeição na Lei Nova, para o bem dos homens, segundo
as palavras de um louco genial. Esse judeu convertido, poeta dos Cursos de
Cultura Católica, chamado Jacobo Fijman, que escreveu em sua ‘Estrella
de la mañana’: “dichosa
el alba de las ciudades que hacen em Cristo sus murallas”.
Bernardino MONTEJANO. Apresentação do livro “Las
Murallas de la Ciudad” de Miguel Ayuso, Ethos: Revista de Filosofía Práctica,
Buenos Aires: 2011, p. 239.
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