quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

AS MURALHAS DA CIDADE

As muralhas são necessárias para o homem, para a família, para a Cidade, porque toda morada está ameaçada. Isto o advertiu com sua agudeza habitual Saint-Exupéry: “o homem é muito semelhante à cidadela. Ele bem derruba as muralhas para assegurar a liberdade, mas nessa altura não passa de fortaleza desmantelada e aberta às estrelas. Começa então a angustia que vem de ter deixado de ser” (“Cidadela”, II). E como antecipando-se a estes obscuros tempos nos quais vivemos, escuta a voz do insensato que pretende destruir o palácio com o argumento da eficácia e que hoje escutamos nos arrotos da eloquência de tantos políticos, economistas, jornalistas: “Quanto espaço dilapidado, quantas riquezas inexploradas, quantas comodidades perdidas por negligência! Urge demolir estes muros inúteis... então o homem será livre”. O insensato busca derrubar os muros e degradar os homens a cuja sombra viviam, e que nessa altura, tornar-se-ão “gado de praça pública”, pois já não se elevam para as alturas das torres e pilares do palácio que são capazes de inspirar poemas. É possível que por muito tempo vivam da lembrança dessa sombra da nostalgia; “depois, a própria sombra se apagará e deixarão de compreender” (“Cidadela”, III).  Mas o ser pleno não se esgota nesta perspectiva que se reduz à ordem natural. Ali, Saint-Exupéry busca, diante da falsa liberdade, defender o homem para que possa alcançar a plenitude em seu ser natural; isso é bom porque é a base de sua vida sobrenatural, mas insuficiente. É preciso construir outros muros. Essas muralhas que aparecem nos Salmos e que alcançam sua perfeição na Lei Nova, para o bem dos homens, segundo as palavras de um louco genial. Esse judeu convertido, poeta dos Cursos de Cultura Católica, chamado Jacobo Fijman, que escreveu em suaEstrella de la mañana’: “dichosa el alba de las ciudades que hacen em Cristo sus murallas”. 


Bernardino MONTEJANO. Apresentação do livro “Las Murallas de la Ciudad” de Miguel Ayuso, Ethos: Revista de Filosofía Práctica, Buenos Aires: 2011, p. 239. 

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