Professor Adib Casseb
25 anos de magistério, dos
quais 20 no ensino superior, conferem a ADIB CASSEB especial autoridade para
falar sobre a juventude. Sobretudo porque ele não é apenas o professor
preocupado em transmitir conhecimentos técnicos a seus alunos, mas também o
educador, na correta acepção do termo. Lecionando Economia Política e Direito
Comercial, na Faculdade Paulista de Direito e na Faculdade de Jornalismo da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, bem como na Faculdade de Direito
da Universidade Católica de Campinas, não dissocia dessas funções a do
apostolado entre a juventude.
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A obra dos adultos
É certo que há uma minoria de
infelizes jovens, totalmente desorientados, dominados por uma profunda
inquietação, e que vão aos poucos se destruindo por uma mórbida angústia, que
os conduz a explosivas revoltas contra tudo e contra todos.
Desde logo, o comportamento
desses pobres moços revela sintomas graves de que realmente se trata de um
fenômeno de patologia psico-social, a exigir a atenção de sociólogos,
psicólogos, educadores e sacerdotes.
São esses moços, em grande
parte, vítimas de um desajustamento que é determinado, de um lado, pela omissão
consciente ou inconsciente dos pais, e, de outro lado, pelo vendaval de
desatinos que atinge os mais variados setores da vida social, desorientando
orientadores, mestres e diretores espirituais.
Basta lembrar como, até pouco
tempo, o jovem formava a sua personalidade. A educação tinha início no lar,
geralmente bem constituído e solidamente estruturado. Era a família o habitat
ideal, em que a criança recebia os primeiros ensinamentos, baseados nos princípios
cristãos de seus pais.
Continuava a criança
completamente sob a influência dos pais até atingir a idade escolar, quando
escapava um pouco da orientação paterna. Mas nisso ainda não havia graves
inconvenientes, eis que a escola conservava aqueles mesmos princípios que o
adolescente recebera em casa. Era costume dizer-se que a escola era um
prolongamento do lar, completando com ensinamentos sadios a formação do jovem.
A escolha do educandário nunca era difícil. Quantas vezes, consultados por pais
acerca de qual o colégio que deveriam escolher, sem vacilar indicávamos: ser
for menino, colégio de padres; e se for menina, colégio de freiras.
Hoje, poderíamos, em sã
consciência, faze-lo com a mesma decisão e tranqüilidade?
Além disso, o jovem, paralelamente
com os ensinamentos que lhe eram ministrados na escola, encontrava na Igreja a
mesma fé dos seus maiores e ouvia as mesmas orações que aprendera no regaço
materno, ao som daquelas mesmas músicas, que para Santo Agostinho, canta-las
era rezar duas vezes.
Tudo se mantinha fiel a si
mesmo. O pecado era pecado, o céu era céu e o inferno era inferno. O sacerdote,
o homem austero e simples, que se habituara a respeitar e a amar; em cujo
confessionário penitente muitas vezes se ajoelhava; e de cujas mãos santas
recebia, sem qualquer sombra de dúvida, Cristo Vivo na Eucaristia.
A Igreja contemplava, assim, a
personalidade do jovem.
E o que ocorre neste mundo de
hoje?
A começar do lar... Não há
necessidade de a criança atingir a idade escolar, para escapar da orientação
paterna e receber as más influencias de fora para dentro. Desde a mais tenra
idade, a criança recebe através da televisão, dentro do próprio lar o impacto
de programas desprimorosos, que vão corroendo paulatinamente toda a sua escala
de valores morais.
E fora de casa a desorientação
é total. O que ocorre nos colégios, nas ruas, nos cinemas e até na igreja é tão
notório que aqui nos permitimos poupar a amargura de repeti-lo.
Trabalhados por tantas forças
de desagregação de seu caráter, como estranhar que jovens infelizes se
transformem em revoltados contra tudo e contra todos, dispostos a levar ao
paroxismo as mensagens de subversão no plano dos costumes, da política, da arte
e da religião?
A principal culpa por esses
fatos cabe àqueles aos quais incumbe orientar, educar, formar a personalidade
dos jovens. Por isso, para acabar com toda a desorientação reinante, é preciso
que os responsáveis tenham a coragem de reconhecer e eliminar as suas
principais causas: nos lares, que os pais deem testemunho de seu próprio
exemplo e reconquistem a sua posição de hierarquia subvertida; nas escolas, que
se restaurem os valores banidos; e, na Igreja, que se restabeleça o princípio
de autoridade.
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*In HORA PRESENTE, Ano I,
Setembro/Outubro de 1968, N 01, p.165/166.
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