quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A UNIVERSIDADE É O UNIVERSO DA ALMA QUE CONHECE

A Universidade é um fruto de vida perene na Cidade que envelhece e morre como os homens que nascem e se nutrem de sua história.
A Universidade é o reflexo mental, a imagem viva, a ideia do Universo: a realidade das coisas e sua ordem imutável estão intima e vitalmente presentes na Verdade da Sabedoria, das ciências e das artes.
A Universidade é o universo da alma que conhece. Seu fim transcende, repetimos, a vida da Cidade cuja virtude e perfeição é o Bem Comum, ao qual se ordena o homem inteiro, o composto de alma e corpo que substancialmente é.
A missão primeira e principal da Universidade não é a preparação do cidadão para a vida pública, nem a superior capacitação profissional. É verdade que lhe compete, uma vez que o Bem Comum se subordina à Verdade e não é possível fora dela, a formação da classe dirigente e o cuidado da identidade moral da Pátria; assim como assegurar a primeira e mais elevada idoneidade cientifica e técnica nas profissões liberais.
E é neste plano do saber prático e útil, exclusivamente, que a Universidade se modifica e necessita renovar-se para responder às exigências do presente: o progresso incessante das ciências exatas e experimentais impõe a readaptação continua dessa parte subordinada da Universidade.
A Universidade é para o homem, antes de tudo, ser: o melhor ser e a perfeição intelectual de sua natureza na Sabedoria. Sua missão primeira e principal é a formação do douto, do verdadeiro doutor: o que possui um saber universal (não enciclopédico) porque sabe as causas primeiras e o princípio de todas as coisas; e que, em razão desse saber puro e ótimo, é o que melhor ensina.
O sábio não é o que sabe muito de uma ou de várias ciências particulares e segundas (matemáticas, física, química, biologia, psicologia etc.); tampouco o investigador paciente e sagaz que aumenta a ciência experimental com novas e valiosas descobertas.
Sábio é o filosofo, cujo perfil interior nos deixou Aristóteles na Ética a Nicômaco e na Metafísica; e cujo arquétipo é o próprio Aristóteles “o mestre daqueles que sabem”.
A Universidade é o testemunho visível da preeminência intelectual sobre as virtudes praticas, da visão sobre a ação, da teoria sobre a práxis, do ócio contemplativo sobre o trabalho manual ou mecânico.
A parte superior e dirigente da Universidade é imóvel como a Verdade dos princípios e das essências, cujo conhecimento aumenta em profundidade, pelo progresso no mesmo ser definido e inesgotável; e não por substituição de hipóteses anteriores por outras ajustadas ao limite da experiência alcançado até o dia de hoje.
No princípio era o Verbo, declara a voz mais antiga; e não foi a ação, como declamam, por igual, os corifeus do materialismo marxista e do pragmatismo plutocrático, empresários de novidades precárias e terríveis.


Jordán Bruno GENTA (1909-1974). Rehabilitación de la inteligência, Universidad Libre Argentina: Estudios de Filosofía, Política y Letras, Buenos Aires: 1946, pp. 25-29.
Jordán Bruno GENTA (1909-1974)

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