Este não é o relato
de mudança de opinião sobre um tema controvertido de um dos protagonistas da
disputa, mas a história de uma profunda conversão pessoal. O processo pode
sintetizar-se em dois passos. Primeiro, o desencanto de uma atividade, a
abortista, e de uma moral atomizada, baseada em um difuso sentimento do dever e
um mínimo de respeitabilidade, algo que é a novidade que alguns apresentam para
este fim de século; segundo, a convicção cientifica de que o objeto do aborto é
um ser vivo, quer dizer, um ser humano vivo; assim, adquire a consciência do
terrível genocídio que se estava cometendo e no qual ele havia participado, com
singular protagonismo. A partir desta consciência do pecado, surgida do
conhecimento da violação da lei natural, se dará o passo da conversão pessoal.
A lei natural surge como apoio essencial, e seu obscurecimento supõem, em
consequência, o maior mal do século; perdida esta mínima guia, ao menos na consciência
coletiva, se dificulta extraordinariamente a consciência do mal cometido e, por
conseguinte, a necessidade de redenção. É neste momento de desconcerto que Bernard
NATHANSON descobre os cristãos, precisamente em sua atividade no movimento
pró-vida: “A manhã da
Redenção era tristemente fria… Sentaram-se em grupos na frente da clinica até o
bloqueio das entradas e saídas da clínica abortista... No início me movia pela
periferia, observando os rostos, conversando com um e outro participante... Foi
só então quando captei a exaltação, o amor puro nas faces dessa vibrante massa
de pessoas rodeadas como estavam por centenas de policiais de Nova York.
Rezavam, sustentavam e animavam-se umas as outras... rezavam pelas crianças não
nascidas, pelas grávidas confusas e atemorizadas, e pelos médicos e enfermeiras
da clínica”.
Foi a consciência do fervor religioso no movimento
pró-vida que levou Nathanson a perguntar-se seriamente por Deus e especialmente
pela conversão ao catolicismo. Com efeito, nas palavras de Hilaire Belloc,
citadas pelo Padre Mc Closkey no epílogo do livro: “Existe uma coisa no mundo que é diferente de todas as demais. Possui
força e personalidade. É reconhecida e (quando reconhecida) amada ou odiada do
modo mais violento. É a Igreja Católica. Dentro deste edifício o espírito
humano encontra teto e morada. Fora existe a noite”.
Ajudar os que saem da noite exige um esforço
cotidiano, é provavelmente a primeira obrigação moral. Neste caminho o exemplo
de Nathanson nos mostra até que ponto é fundamental a insistência na lei
natural.
___ José Miguel Serrano RUIZ-CALDERÓN. La mano de Dios. Autobiografía del llamado rey
del aborto, Revista Verbo, ns. 355-356, p. 566.
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