“(…) a situação presente dos cristãos
se assemelha mais e mais à dos primeiros cristãos que lutaram por sua fé em um
Império Romano cujas forças se conjuravam todas contra eles. Não estamos
somente situados numa sociedade cuja alma não é mais cristã, mas cuja forma
mesma não o é mais. Nem nossa moral pública se acorda com a que o Estado
tolera, nem nossa moral privada com a que se pratica em torno de nós (…) Não
vivemos como os outros, porque de um país onde a pornografia faz viver tantos
jornais, onde o nudismo se extravasa dos teatros para as bancas das ruas, onde
os crimes mais revoltantes são cotidianamente absolvidos pelos júris dos
cidadãos honestos que os julgam em sua alma e consciência, onde todas as formas
de exploração industrial, comercial, bancária se expõem à luz do dia –
poder-se-á dizer tudo que se queira, salvo que ele representa, mesmo
aproximadamente, a imagem de uma sociedade cristã. Mas o mais grave é que não
vivendo como os outros, nós não pensamos mais como eles. Isto é o mais grave,
porque de todas as rupturas é a mais profunda. A desordem moral não é
privilégio de nossa época; ela existiu sempre, mesmo na Idade Média; mas então
ela era considerada como uma desordem, enquanto em nossos dias pretende-se
instalar como a ordem mesma. Não é o fato de sua ocorrência o que nos deve
espantar; é o fato de que progressivamente ela se faz legalizar. Por outro
lado, nada se lhe opõe; desde que o Estado não reconhece nenhuma autoridade
espiritual acima dele, não tem outro recurso senão o de laissez-faire ou de
decretar uma moral em seu proveito.”
____ Etienne GILSON. Pour un Ordre
Catholique. Citado em “Laicismo e
Universidade”, Revista A Ordem , novembro de 1950.
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