quarta-feira, 23 de julho de 2014

APENAS UMA COISA CONTA

"Que sujeito impossível sou eu, pensou, e que inútil! Não fiz coisa alguma por ninguém. Era o mesmo que se não tivesse nascido. Os pais estavam mortos... ele próprio, em breve, nem uma recordação seria... afinal de contas, talvez até nem do Inferno seria digno... As lágrimas corriam-lhe pela face; naquele momento não tinha medo da condenação eterna - até o medo do sofrimento físico passara para segundo plano. Sentia apenas um imenso desapontamento, por ter de comparecer perante Deus de mãos vazias, sem ter feito absolutamente coisa alguma. Parecia-lhe naquele momento, que teria sido muito fácil ser um santo. Teria bastado um pouco de domínio próprio e um pouco de coragem. Sentia-se como alguém que tivesse perdido a felicidade, por questão de segundos, num lugar combinado. Sabia agora que, no fim, apenas uma coisa contava: ser santo".


___ Graham GREENE. O poder e a glória, trad. de Mário Quintana, Porto Alegre: Editora Globo, 1970, p. 219.

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