"A guerra é sem trégua e sem piedade entre a Revolução e os que permanecem fiéis a Deus sobre a terra, porque a Revolução é uma tentativa de organização do mundo sem Deus e contra Deus. É o mais formidável dos erros. É a heresia total". (Pe. Charles Maignen. "La souveraineté du Peuple est une hérésie")
Em relação ao ponto que tocamos, a heresia é flagrante e fora de dúvida. Pois a soberania do povo é incompatível com o dogma do pecado original e da mancha primitiva do homem. Se, com efeito, o mal existe no homem desde o seu nascimento, se o homem traz em si más tendências que não podem ser combatidas nem freadas senão pela graça e uma autoridade esclarecida, como ensina o cristianismo, é absurdo proclamar o homem incondicionalmente soberano e independente. É o que proclamam em alta voz Jean Jacques Rousseau e todos os filósofos ou doutrinadores da revolução. É o que, seguindo seus passos, reconhecia faz pouco tempo Edouard Herriot, como postulado fundamental: “A democracia tem por fundamento um grande ato de fé na bondade da ‘natureza humana’”.
Contra o dogma do pecado original, a soberania do povo erige, pois, o da bondade e o da retidão naturais, da “imaculada concepção” do homem, segundo a célebre expressão de Blanc de Saint-Bonnet. A soberania do povo permite que Lúcifer se levante novamente contra a ordem divina e satisfaça ao mesmo tempo seu espírito de vingança e sua eterna malícia. Com a reivindicação da “imaculada concepção” do homem visa descontar a decadência que seguiu a falta de nossos primeiros pais. E o Tentador evidentemente experimenta uma sutil satisfação ao renovar para nós a queda primitiva, fingindo querer nos livrar de suas conseqüências e ao fazer cada um de nós tropeçar como nosso primeiro pai e pelo mesmo motivo. Pois a causa e o estimulo da rebelião original foi a soberba: “Sereis como deuses!” A afirmação da soberania individual e popular procede da mesma tendência; está marcada intrinsecamente pelo mesmo vício; não se poderia admiti-la nem tampouco praticá-la sem dar provas de uma vaidade ao mesmo tempo criminosa e cômica e de uma insurreição deliberada contra a ordem das coisas tal como foi estabelecida por Deus em castigo a falta e, por conseqüência, sem incorrer em uma nova pena.
A soberania do povo é satânica enquanto pretende expulsar Deus da sociedade e proclamar contra Ele os falsos Direitos do Homem, exatamente como Lúcifer pretendeu substituir a Deus no Céu e proclamar contra Ele os falsos direitos dos anjos rebeldes. É satânica enquanto nega explicita e insidiosamente os dogmas essenciais da fé cristã: o da queda original e da mancha radical do homem e o de que toda autoridade reconhece sua fonte exclusiva, sua regra e seus limites em Deus. É satânica, por conseguinte, enquanto baseia toda organização política e social na insubordinação e na soberba e faz deste pecado, pai de todos os vícios, a mola propulsora de toda atividade das nações. É a heresia de nosso tempo, dizia o Cardeal Gousset, que se fez um bom profeta. Será tão daninha e tão difícil de extirpar como o jansenismo. Será mais ainda, pois ultrapassa imensamente em malícia e extensão.
Marcel de la BIGNE DE VILLENEUVE (1889-1958). Satan en la Ciudad. Buenos Aires:
Editorial Nuevo Orden, 1965, pp. 86-89.
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