O PODER PÚBLICO COMO UM EMPECILHO E UM TRAMBOLHO
Nesses oásis, revivendo o tempo das bandeiras, tudo se deve à
iniciativa privada. Foi o particular que desbravou a mata, que ergueu as
plantações, que estendeu pela terra virgem os trilhos dos caminhos de ferro,
que fundou cidades, abriu fabricas, organizou companhias e importou o conforto
da vida material. O poder público, pacientemente, esperou os frutos da riqueza
semeada. E logo em seguida criou o imposto, como os governadores do século
XVIII e a metrópole estúpida, na loucura do ouro, criaram os quintos, os dízimos,
dízimas, a capitação e a derrama. Nesse afã, porém, a administração publica
faliu, não podendo acompanhar o movimento progressista, ora lento, ora
impetuoso. E assoberbado, num afobamento tonto, ficou atrás: é quase um
empecilho e um trambolho. No resto do país a coisa se agrava: os homens, de incapazes,
tornaram-se desonestos e pela cumplicidade dos apaniguamentos eleitorais,
aceitaram com pequena relutância o consórcio das funções administrativas com os
interesses mercantis. A fragilidade humana fez o resto, que é a vergonha da
nação. Na desordem da incompetência, do peculato, da tirania, da cobiça,
perderam-se as normas mais comesinhas na direção dos negócios públicos.
Paulo PRADO. Retrato do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira, 4 ed, Rio de Janeiro: F.
Briguiet & CIA, 1931, pp. 206-207.
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