“Com a liberação das antigas ataduras – expressão que designa a ruptura de todos os vínculos sociais do individuo, inclusive o aggionarmento antropocêntrico das crenças religiosas e o esquecimento das experiências transmitidas pela tradição – o individuo fica sozinho diante de um Estado onipotente, que se faz totalitário, embora politicamente seja uma democracia. Surge assim um ‘novo totalitarismo’, que nos mostrou Roland Huntford no denominado ‘paraíso sueco’, realização do ‘mundo novo’ vislumbrado por Aldous Huxley ... Ademais, como a desalienação das tradições – depósito vivo e sempre renovado das experiências resultantes de sua constante luta pela existência e por seu progresso – deixa o homem inerme diante de toda espécie de utopias, o torna dócil à uma opinião pública pré-fabricada pela propaganda, emitida em imagens e concretizada em slogans que, mobilizando seus desejos e ilusões, seus temores e ressentimentos, provocam nele reflexos condicionados que o priva de senso crítico em face das novidades.Ao fim e ao cabo, o Estado tecnocrático ao assumir a realização do mito de superar todas as necessidades, converte a finalidade clássica do bem comum, de ‘viver na virtude’ mediante a conquista ‘da paz, da concórdia e da tranqüila convivência na ordem’, na atual consideração como função primordial do Estado da – antes instrumental e subsidiária – de conseguir bens materiais suficientes para distribuí-los coletivamente a todos. Esta mudança radical de fins implica a centralização de um poder imenso – pois, nele, se confundem com o poder político, o econômico e o cultural -, que de fato fica nas mãos de quem detém as alavancas do poder de mando. Mas, ademais, produz o esquecimento de que a saúde da sociedade depende primordialmente da conquista da plenitude pessoal de seus membros, não só física senão também moral, intelectual e política, que requer o estímulo de seu engenho e de suas iniciativas e o incremento de seu senso de responsabilidade, de modo semelhante a como a solidez de um edifício depende da fortaleza dos materiais de que está feito, e, em especial, dos que constituem seus pilares básicos.
"Ó Cidadela, minha morada, prometo salvar-te dos projetos de areia, e hei de bordar-te de clarins para tocarem na guerra contra os bárbaros". A. de Saint-Exupéry ("Cidadela", II)
terça-feira, 18 de março de 2014
TECNOCRACIA, TOTALITARISMO E MASSIFICAÇÃO
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