“A prodigiosa explanação da técnica nos últimos dois séculos e principalmente nos últimos decênios resultou da concentração de todas as energias humanas num só de seus rumos possíveis. O sentido das ideologias da técnica consiste em manter inflexivelmente esse rumo único. Qualquer desvio, qualquer concessão ao que não é rigorosamente operacional, pode pôr em perigo o processo todo. Por isso está o homem agora saturado de explicações – niveladas e homogêneas – de sua própria realidade interna e externa. Seu senso crítico foi previamente abatido pela sua instrução, minuciosamente especializada. Suas verdadeiras angústias, suas inquietações metafísicas e estéticas são mascaradas e rotuladas como neuroses e paranóias. Seu comportamento é estereotipado pelos meios de comunicação. É vitima de uma luta sem tréguas contra o valor e o sentido de sua pessoa: poderosas correntes de idéias ensinam-lhe que sua consciência individual não tem realidade em si, não passando de um fogo fátuo da consciência coletiva ou da consciência de classe. E como para justificar as ideologias que o anulam, sua vida se passa toda na inautenticidade dos grupos anônimos, onde ele é um ingrediente, não uma pessoa. Se lhe sobrasse ainda uma réstia de liberdade, seu dilema consistiria numa dramática escolha entre sua negação no coletivo e sua afirmação como pessoa autêntica; esta pressuporia, acima da existência banal, acima do mundo-à-mão da técnica, a plena consciência de sua finitude, de sua angústia e de seu ser-para-a-morte. Mas este seria também o caminho de sua salvação”.
"Ó Cidadela, minha morada, prometo salvar-te dos projetos de areia, e hei de bordar-te de clarins para tocarem na guerra contra os bárbaros". A. de Saint-Exupéry ("Cidadela", II)
terça-feira, 18 de março de 2014
A TECNIFICAÇÃO DA VIDA
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