Eis o que eu queria dizer: - a origem do Poder Jovem está numa bofetada consentida, de filha em mãe, ou de filho em pai. Hoje, o adolescente leva uma sensação de onipotência. O homem maduro tem, por vezes, um olhar estrábico de pavor. Sim, o homem maduro traz o medo no coração...
Mas eis o que eu queria repetir: - o jovem não tem culpa nenhuma. Vítima de um processo de desumanização, ele é vítima também dos velhos. Numa das minhas confissões, referi um episódio que considero magistral. A coisa se passou com o padre Ávila. Certo rapaz, se não me engano aluno da PUC, cometeu uma vileza atroz com um amigo. O padre Ávila (espírito altamente compreensivo) foi interpelá-lo. Perguntou-lhe: ‘Você acha isso uma deslealdade?’ O adolescente pergunta: ‘É preciso ser leal?’ O bom sacerdote perdeu noites sem saber direito o que aquilo significava. E nem lhe ocorreu que, por trás do moço, explicando esse e outras lealdades, estava um velho conhecido nosso – o pulha. Ora, o ser humano não anda de quatro, nem está no bosque urrando à lua. E por quê? Resposta: - porque somos responsáveis. É a responsabilidade o nosso mistério e a nossa salvação. Os velhos começaram por suprimir os limites morais da juventude. O nosso Padre Ávila apreciou a canalhice do aluno ou conhecido, sei lá, com um espanto muito leve, quase imperceptível... Portanto, são os velhos, sacerdotes, psicólogos, professores, artistas, sociólogos que dão cobertura à imaturidade. Os jovens são o certo, o direito, o histórico, o infalível.
Nelson
RODRIGUES. A cabra vadia, Rio de Janeiro: Eldorado, pp. 298-299.
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