“As correntes poéticas e artísticas de nossa época se caracterizam por uma proliferação desorbitada de propósitos e realizações. Não é que semelhante pluralidade constitua uma riqueza digna de louvor. Ao contrario, o que está se manifestando ali, é certo incontido afã niilista que tende à fazer tabula rasa de tudo quanto se tenha criado no passado e, em especial, desse privilegio humano pela qual somos cada um de nós uma imagem e semelhança de Deus. Este privilégio francamente enobrecedor de nossa condição espiritual, que nos constitui como uma espécie de ilha dentro do mar do Universo visível, ou melhor, como o cume privilegiado de uma alta montanha, e que se projeta na ordem de nossas atividades pela vontade e pela razão; em outras palavras, pela faculdade intelectiva e pela capacidade de determinarmos a nós mesmos na esfera de ações propriamente humanas... As correntes artísticas que espiritualmente pertencem ao mundo moderno, ao mundo estético que se constituiu no âmbito de nossa civilização cristã e ocidental revelam um claro e indiscutível ateísmo. Ostentam um humanismo que, longe de enobrecer as condições tipicamente humanas de espiritualidade e racionalidade, as privam de seu desenvolvimento normal, que só pode alcançar submergindo suas raízes nas águas vivificantes da graça. Porque, não nos enganemos: desde que o pecado original deixou a natureza humana ferida e menoscabada, nos será impossível, por mais esforços que façamos, alcançar a normalidade em um clima exclusivamente natural”
R.P Osvaldo LIRA (1904-1996). Prólogo do livro “Arte y
Subversión” de Alberto Boixadós, Buenos Aires: Areté, 1977.
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