“Uma 'sociedade' com a praga que Valery chama 'a multiplicação dos sós', é necessariamente coletivista. Como diria o conselheiro Acácio, para ser eu, não é preciso ser outro, na dependência de outro, Deus, homem, hierarquia, sociedade, instituições, coisas, universo, nada em suma de tudo que é. É então necessário suprimir qualquer alienação, romper todos os vínculos que ainda unissem, mesmo mentalmente, o eu ao não-eu. Mas, para que todas as subjetividades estejam na mesma situação, é preciso compor todo um Estado proprietário de tudo que não é o próprio eu, o eu esvaziado de ser, ou , se assim podemos dizer, o eu que recebe seu vazio de ser — Monstro anônimo em cujas mínimas percepções, se vê que não passa de um Aparelho manobrado por uma 'nova classe dirigente' e minoritária. The madness of the many for the gain of a few, dizia Pope. Atrás do monstro estão os maquinistas”.
Marcel DE CORTE (1905-1994). Sartre, filósofo da
contestação. Trad. Gustavo Corção, publicado em Permanência, Novembro de 1970.
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