“Sinto-me hoje profundamente triste – e triste em profundidade. Sinto-me triste por causa da minha geração, vazia de toda substância humana, geração que só conheceu o bar, as matemáticas e os Bugatti como forma de vida espiritual e se entrega hoje a uma ação estritamente gregária, que já não tem cor alguma... Não lhe parece que já não se pode viver de frigoríficos, de política, de balanços e de palavras cruzadas? Não podemos mais. Não se pode viver mais tempo sem poesia, sem cor, nem amor... Desculpe-me, mas já só nos resta a voz do autômato da propaganda. Dois milhões de homens já só ouvem o autômato, já só compreendem o autômato, convertem-se em autômato... O homem autômato, o homem térmita, oscilante entre o trabalho em cadeia segundo o sistema de Bedeau e a bisca... o homem castrado do seu poder criador e que, do fundo da sua aldeia, nem sequer já sabe criar uma dança nem uma canção. O homem que se alimenta de cultura confeccionada, de cultura ‘standard’ como os bois se alimentam de feno. O homem de hoje é isso”.
"Ó Cidadela, minha morada, prometo salvar-te dos projetos de areia, e hei de bordar-te de clarins para tocarem na guerra contra os bárbaros". A. de Saint-Exupéry ("Cidadela", II)
sexta-feira, 21 de março de 2014
O HOMEM AUTÔMATO
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