domingo, 16 de março de 2014

FEUDALIZAÇÃO DO ESTADO

"Com a ajuda de sua rede de alianças com os grandes feudalismos, o Estado converte todos os cidadãos em seus clientes, seja de forma direta ou indireta. E não é a lealdade e nem o patriotismo que leva as pessoas a este estado de submissão; a verdade é que cada qual está inscrito em um dos feudalismos que o matem no marco da obediência. Cada um, ou é funcionário do Estado, ou é membro de um sindicato, ou militante de um partido, ou empregado de uma grande empresa, ou está relacionado com os meios de comunicação. E assim, ao mesmo tempo em que sofre o peso do Estado, apenas mitigado pela pertença aos grandes grupos de interesse, o espaço político existente entre o indivíduo e o Estado, se estreita catastroficamente por causa do debilitamento das instituições e dos corpos intermediários. No fundo, o liberalismo é isso: a substituição das instituições, chamadas tirânicas no século XVIII, pelos grupos de pressão que ninguém controla e que ninguém freia. Tocqueville escreveu que o poder da burguesia (dentro de seus grupos de pressão, entenda-se) é muito mais forte que o que ostentou a nobreza sob o Antigo Regime. É que entre a nobreza, a plebe e o povo humilde, se encontravam as instituições e outros obstáculos, e cada grupo, segundo aduziu o historiador Pierre Goubert, vivia solidariamente, protegendo-se e apoiando-se. O liberalismo tudo demoliu em nome da liberdade, e depois estimulou a reconstrução dos poderes simulados. Tudo, até o próprio socialismo, tem sua origem nesta falsificação liberal: o socialismo mesmo se converteu em um feudalismo, em uma demagogia, em um grupo de pressão, popular, porque promete a volta de uma maior humanidade, de uma maior solidariedade”.

Thomas MOLNAR. Ideología y pensamiento de derechas. Conferencia pronunciada em junho de 1981.

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