“... para o camponês a casa é um labor dos séculos, na qual, além de uma percepção real da perpetuação da espécie, é o labor mesmo que se perpetua sobre a terra. Porque, no campo, a casa é projetada para que atravesse os séculos como os velhos armários de carvalho que os antiquários, recentemente, saquearam nas velhas casas, e que eram construídos para durar como se costuma construir tudo no campo. Do mesmo modo a casa é reino aonde, desde o primeiro o dia, o homem conhece as duas monarquias: a do pai, no mando exterior, e a da mãe, no mando interior do lar. De tal modo que quando o homem busca uma mulher, não busca apenas uma companheira, mas sim alguém que possa ser uma boa mãe para a casa. Sob essas duas monarquias sagradas, o homem aprenderá a ser, por sua vez, monarca, com a carga de deveres-direitos que isso implica, e a força de capacidades-liberdades que lhe vão sendo concedidas à medida que cresce e amadurece. A casa é também escola, com milhares de ensinamentos que não se encontram em nenhum outro âmbito e lugar de forma tão natural e sem traumas como nela. Lições de coisas, lições de vida, lições de fé, de esperança e caridade, que se dão e que se recebem cotidianamente, lições da pequena história e da pequena geografia do pequeno torrão; o lugar aonde o tio João matou um javali, a arvore sobre a qual antes se dava sal para as vacas,... lições recebidas na própria pele pela voz de testemunhas inquestionáveis, aos que o amor impede mentir e, igualmente, aos que o amor faz crescer. Escola principal sem a qual todas as demais escolas encherão a mente de conhecimentos sem encher o coração”.
"Ó Cidadela, minha morada, prometo salvar-te dos projetos de areia, e hei de bordar-te de clarins para tocarem na guerra contra os bárbaros". A. de Saint-Exupéry ("Cidadela", II)
quinta-feira, 20 de março de 2014
O CAMPONÊS E A CASA
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